Semana passada fui chamado até a
Secretaria Municipal de Saúde, localizada no segundo piso do posto de Saúde do
município de Mata, para identificar uma serpente que havia entrado na unidade
móvel de saúde quando esta estava atendendo pacientes em outro ponto do
município. Quando cheguei lá encontrei uma coral verdadeira que se encontrava
morta e dentro de um recipiente com água. Logo de cara reconheci o animal e
sabendo que se trata de uma espécie peçonhenta e de muita incidência em nosso
municipio resolvi escrever algumas coisas sobre esta aqui neste espaço que o
amigo Elton me cedeu para melhor informar o povo matense.
Micrurus altirostris (Cope 1860)
As corais verdadeiras são serpentes do
gênero Micrurus e pertencem a família Elapidae. Esta família encontra-se
amplamente distribuída ao redor do mundo, com aproximadamente 280 espécies (Lema,
2002), tendo como exemplo, as najas asiáticas e africanas e as mambas da Africa
e as taipans e cobras marrons da australia. Nas Américas, a família Elapidae é
representada pelos gêneros Micrurus, Micruroides e Leptomicrurus
(Campbell e Lamar, 1989). No Brasil, as serpentes corais (Micrurus spp)
estão distribuídas por todo o território nacional.
A família Elapidae é composta por
serpentes dotadas de um aparelho inoculador do tipo proteróglifo. Neste tipo de
dentição, as presas são fixas e estão na parte anterior do maxilar superior. São
conectadas com a glândula venenosa geralmente com canal de veneno não completamente
fechado, de forma a parecer um sulco na presa. Para injetar o veneno tem de
morder diferentemente das viperideas que bastam picar.
As peçonhas elapídicas caracterizam-se
por apresentar elevada toxicidade, em geral bastante superior à das serpentes
da família Viperidae. Causam paralisia flácida, podendo levar a óbito por
paralisia respiratória (Russel, 1983). Os venenos de serpentes do gênero Micrurus
exercem pequena atividade proteolítica, não provocam hemorragias, e não
coagulam o plasma sangüíneo, como muitas das peçonhas das representantes
viperidicas (Vital Brazil, 1980).
As peçonhas elapídicas agem sobre a
transmissão neuromuscular onde ocorre paralisia motora e respiratória. A alta
toxicidade e o efeito bloqueador neuromuscular dessas peçonhas são devidos às
neurotoxinas que se combinam com os receptores colinérgicos da placa terminal,
semelhantemente ao curare Strychnos
toxifera, (também conhecida como estricnina) sem promover a
despolarização da membrana sub-sináptica da fibra muscular.
As serpentes corais são os principais
representantes da família Elapidae nas Américas, sendo Micrurus o gênero
de maior importância do ponto de vista médico (Warrel et al., 2004). A cauda
curta e roliça dá nome ao gênero Micrurus (do grego, pequena cauda)
As serpentes desse gênero apresentam a
cabeça oval recoberta por grandes placas simétricas e não apresentam fossetas
loreais, como na família viperídae. Os olhos são pequenos e pretos, quase
sempre localizados em uma faixa preta da cabeça, com pupila elíptica vertical.
O corpo é cilíndrico, recoberto de escamas lisas e com anéis de cores vivas e
contrastantes – vermelho, amarelo (ou branco) e preto, dispostos em tríades.
São animais fossoriais ou
semifossoriais, vindo eventualmente à superfície para alimentar-se ou para
acasalar (Melgarejo, 2003).
Envenenamento por serpentes do gênero Micrurus
no Brasil é relativamente raro (0,6%), com um coeficiente de letalidade de
0,36% (Ministério da Saúde, 1998), entretanto, é considerado grave, em virtude
da alta toxicidade dos venenos.
A baixa incidência de acidentes humanos
por serpentes corais pode ser explicada pela pequena abertura da boca que é em
torno de 30º e pelo pequeno tamanho das presas inoculadoras (2,5 mm em uma
coral de 90 cm). A injeção superficial do veneno pode ser compensada pelo
hábito de morder sem soltar, o que aumenta a probabilidade e o tempo de
inoculação do veneno. As manifestações clínicas locais costumam ser discretas
(Jorge da Silva Jr. e Bucaretchi, 2003).
Os venenos das serpentes do gênero Micrurus
induzem predominantemente efeitos neurológicos, mediados por neurotoxinas
pré e pós-sinápticas. O sintoma mais característico é a paralisia de músculos,
como os intercostais e o diafragma, que resulta em insuficiência respiratória.
O progressivo bloqueio neuromuscular, provocado pelo veneno, provoca dor e
parestesia. A ausência de tratamento clínico adequado pode levar à morte.
A
coral que me foi apresentada M.
altirostris é uma espécie própria das terras baixas do Uruguai e Rio Grande
do Sul, entrando a nordeste da argentina. É bastante abundante na sua área de
ocorrência. Apresenta cabeça preta cortada por anéis creme, com uma figura
negra em forma de borboleta (já encontrei cabeça preta com figura vermelha que
é raro), sobre os escudos parietais; no tronco os anéis vermelhos são
estreitos, com anéis negros largos intercalados de creme que também são
estreitos. Vivem em troncos podres, formigueiros, tocas no chão. Costumam
aparecer em dias quentes pela manhã, quando o sol esta esquentando a terra,
diminuindo sua freqüência à tarde. São ofiófagas, alimentam-se também de
anfisbenas e sáurios. Não mordem pessoas a não ser quando pisadas ou pegas e
pressionadas. Quando se sentem ameaçada estacam de repente, erguem a cola em
forma de argola, escondem a cabeça debaixo do corpo e vão mudando bruscamente
de posição ate que os inimigos se afastem. No caso de ser um espécime macho
poderá ocorrer de o mesmo fazer a eversao de um dos hemipenis que são
espinhosos o que explica a crença de que a coral verdadeira ferroa com a cauda. Os ovos são alongados e
soltos, são postos em pequeno numero; segundo Vaz-Ferreira et al (1970) desova dentro de formigueiros do gênero Acromyrmex chocando na galeria debaixo
das plantações de fungos das formigas que tem temperaturas mais altas e
constantes. Das corais encontradas no estado Micrurus altirosris é que possui
veneno mais ativo. Pois Abreu (2008) concluiu que Micrurus altirostris apresentou
maior potência de letalidade em camundongos, em comparação com a letalidade
provocada pelo veneno de outras serpentes do gênero Micrurus, com dose
letal (DL50) de 0,255 mg/kg, i.p. Os venenos de M. frontalis (DL50 0,965
mg/kg, i.p., Moraes et al., 2003) e de M. corallinus (DL50 0,355 mg/kg,
i.p., Higashi et al., 1995).
Abreu
V.A. de 2008. Estudo
da ação do veneno bruto de Micrurus altirostris (cobra uruguaiana) sobre
a junção neuromuscular e da capacidade de neutralização do antiveneno comercial
e do anti-soro específico /Valdemir Aparecido de Abreu. Campinas, SP Tese de Doutorado apresentada à Pós-Graduação da Faculdade
de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas para a obtenção do
título de Doutor em Farmacologia
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Alessandro
Figliero de David
Biólogo Esp.
Biologia da Conservação e Tecnologias Ambientais
CRBIO 88007/03-D
CRBIO 88007/03-D