quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Escritor da região explora o cotidiano para criar poesia.

Papo de Escritor25/01/2016 | 06h02

Escritor da região explora o cotidiano para criar poesia

Nascido em Mata, Odemir Tex Jr. se divide entre o trabalho no serviço público e a produção literária em Santa Maria

Escritor da região explora o cotidiano para criar poesia Jean Pimentel/Agencia RBS
Para o escritor, o papel do poeta é modificar o olhar do leitorFoto: Jean Pimentel / Agencia RBS
Para dar continuidade à série Papo de Escritor, conversamos com Odemir Tex Jr. Foi em um ambiente de brincadeiras, criação de origamis e gibis, em sua cidade natal Mata, que Tex viveu a infância. Aos 14 anos, veio para Santa Maria estudar. Mas só com o ingresso na faculdade de Geografia que o contato com a literatura foi ser desvendado:

– Nessa época, me descobri como leitor, tanto que com esse contato com a literatura, desisti do curso e mais tarde ingressei no curso de letras.
Hoje, Tex se divide entre o trabalho no serviço público e a produção literária. Ele brinca ao dizer que poesia ainda não sustenta os escritores pelo Brasil.

– A poesia não é do mundo capitalista, pois não temos tantos de leitores de poesia. Eles esperam ler os poemas como a prosa, mas eles não têm a lógica do início, meio e fim – relata.

Nessa sentido, o escritor, que trabalha com a complexidade das palavras e revela isso em sua fala, argumenta que o papel do poeta é modificar o olhar do leitor.

– Ao entender que a literatura tem uma função de fugir do lugar comum, é preciso fazer o leitor raciocinar.

Palavra por palavra
As inspirações não são a principal fonte temática de Tex. Para ele, o fazer poesia acontece com o estudo, com a pesquisa, com a procura pela formação. Além de ser licenciado em Português, hoje ele cursa Espanhol para não deixar a “mente vazia” e faz muitas pesquisas para produzir seus textos.

– Busco uma poesia neobarroca que tem elementos do contemporâneo e da cultura pop. Isso é a ideia de uma linguagem carregada, adjetivada, uma suspensão de imagens. E entre as minhas influências estão João Cabral de Melo Neto, Calos Nejar e Manoel de Barros – esclarece o escritor.

São os eventos cotidianos que encantam Tex Jr para produzir seus poemas. Ele explica que é preciso imaginar um leitor, escrever para alguém em particular. Já quanto ao desenvolvimento do tema é interessante pensar numa totalidade, e não apenas num lugar específico. Quanto mais universal, mais abrangente será a leitura.
Nessa organização das palavras, dos significados, ele conta da relevância que o título tem para atingir o leitor.

– Preciso de um título que cause estranhamento para instigar o leitor, que o faça pensar, desconfiar e então seguir a leitura. E faço minha escrita com estudo, porque é um processo para se ver um evento cotidiano como algo com potencial poemático – explica o escritor.
Os dois lados da moeda
Em Santa Maria, Tex ficou conhecido e foi reconhecido como poeta pela participação em concursos literários. A conta de premiações é longa: já foram mais de 30, entre oito vezes no concurso Felipe de Oliveira, de Santa Maria, e três no concurso Carlos Drummond de Andrade, de Brasília.

Enquanto concorrente, ele explica que é preciso ter a noção que vai escrever para um leitor específico, um jurado que espera características desse gênero textual:

– É esse leitor que eu tenho que atingir e não a inspiração.
Mas a experiência com premiações também já o fez estar do outro lado da bancada, como jurado.

– Essa experimentação só faz aumentar a busca pelo estudo, pois como jurado preciso cuidar elementos da poesia, como o uso do figuras de linguagem, organização dos versos e da rimas, um texto mais compacto, uso da ambiguidade, do contemporâneo – diz.

Experimentar esses dois lados colaborou na produção do seu primeiro livro. Em 2010, ele venceu o Prêmio Nacional de Ipatinga, (MG), no qual escreveu um conjunto de poemas. Em 2013, esse conjunto foi ampliado e publicado como Para uma Nova Didática do Olhar. Além da escrita, ele também produziu o livro pela editora Estrela Cartonera, que é uma iniciativa dele de confeccionar capas exclusivas, feitas em  papelão.

– A ideia de um concurso que exige um conjunto de poemas comprova a minha defesa que um livro tem que ter uma ligação, pemas conectados entre um tema comum. Poemas soltos não formam um livro – declara o poeta, acrescentando que já tem muitos textos escritos, mas ainda não os considera prontos para publicação. 
DIÁRIO DE SANTA MARIA