quarta-feira, 23 de junho de 2021

EXPRESSÕES EM TEMPO DE PANDEMIA

Longe de pensar que me considero um filólogo, entretanto, permitam-me fazer uma breve análise das expressões mais usadas durante a pandemia, e o que me deixa mais perplexo que nem mesmo as expressões utilizadas são originais, sendo que o país se transformou numa seara de palavras até então pouco conhecidas pelo grande público, sem contar num emaranhado de expressões e exibicionistas de algumas autoridades que se aproveitaram do momento de crise sanitária para circular entre os holofotes como estrelas de um “teatro de horror”, mas isso é tema para uma crônica especifica. Vejamos algumas expressões que caiu no uso coloquial, e que está naturalizado na linguagem cotidiana: isolamento social, cepa do vírus, curva da pandemia, vertical ou horizontal, respeito ao protocolo da OMS, ensino híbrido, aulas síncronas e assíncronas entre tantas outras. O simples fato de a sociedade absorver palavras estrangeiras tem efeito imediato na comunicação. Palavras como: lockdown, refill, delivery, como tantas outras que já fazem parte do nosso cotidiano. “Além da questão das línguas em geral, há questões específicas de cada área. Por exemplo, no comércio, palavras como delivery, tem um apelo maior do que disk-entrega. O lockdown, numa tradução mais dicionarizada seria "confinamento total”, sintetizando de forma lúdica de dizer fique em casa, não saia para a rua porque o covid-19 está atacando nas aglomerações, então sem carnaval, sem futebol, sem cinema, sem festas, contudo o brasileiro sempre acha uma forma de burlar, talvez seja a manifestação do famoso jeitinho. O home office é uma expressão inglesa que significa “escritório em casa”, na tradução literal para a língua portuguesa, esta então agrada os que querem enfrentar o estresse do trânsito, a rotina do escritório enfadonho, então é melhor é trabalhar e fazer seu próprio horário, sem serem incomodados. O homeschooling, é caracterizado pela proposta de ensino doméstico ou domiciliar, sob a tutela dos responsáveis pelas crianças. Sua proposta vem de encontro à frequência das crianças numa instituição, seja ela escola pública, privada ou cooperativa. Conforme se observa há uma gama de expressões que eram desconhecidas do povo e que agora se tornou familiar, o que demonstra a dinâmica linguística, mesmo que sejam termos importados numa situação excepcional, já estão inseridos em nossas vidas, sendo que a introdução de novas palavras no vocabulário revela uma nítida pobreza do nosso vernáculo para expressar ou explicar nossas aflições, além de importar o coronavírus da china, para completar importamos expressões inglesas que agrava mais desgraça de um povo tão sofrido, quase sem autoestima, porque não consegue ter sua autonomia ou ser original nem mesmo nas tragédias sociais, talvez o significado da dor em nossa língua pudesse ter um efeito placebo se pudéssemos ter nossas próprias concepções, desse modo, a incompetência até mesmo em expressar a dor em português, nos causa ainda mais desalento, aliás, apenas para registrar, o português também não seria do Brasil, então, talvez resida aí a herança da necessidade de uma matriz europeia, americana ou asiática, numa versão tupiniquim. LUIZ PAULO FLÔRES Advogado-Biólogo-Teólogo, Acadêmico em Sociologia, Psicanálise, Mestrando em História UFSM, Doutorando em Direito Constitucional.