sábado, 16 de junho de 2012

PATRIMÔNIO.


PATRIMÔNIO

HISTÓRIA GRAVADA EM PEDRA

Descendentes de imigrantes judeus planejam campanha para restaurar o Cemitério de Philippson

Mais de um século passou, mas a fazenda segue bela. Certamente, tem uma configuração bem diferente da época da colônia, quando mais de 300 pessoas habitavam aquelas coxilhas, plantando amendoim, fumo, trigo e milho, e criando pequenos animais. Daqueles tempos, restou apenas um conjunto de túmulos maltratados pelo tempo. Enterrados no pequeno cemitério estão restos mortais dos primeiros habitantes da Fazenda Philippson – a primeira colônia judaica do país, fundada em 1904, no então distrito de Itaara – e parte da memória da colonização israelita (veja na página ao lado).

Com cerca de 1,2 mil metros quadrados, o Cemitério Israelita de Philippson poderia ser um centro histórico, não fosse a ação dos anos de indiferença. Somem das lápides compridas os nomes de 84 imigrantes que ali descansam em paz. No chão, mato e ervas daninhas crescem livremente, dando guarida para variedade de insetos, escondendo o piso de basalto e atacando os jazigos. Sem manutenção (a última reforma foi em 1997), parte do muro de pedra que cerca o campo sagrado desabou recentemente, destruindo três túmulos. A capela que serve de pórtico e local de orações foi atacada pela umidade com o aval das telhas quebradas da cobertura.

Tal abandono foi considerado inaceitável pela nova diretoria da Sociedade Beneficente Israelita de Santa Maria, que planeja restaurar a área. O primeiro passo é contratar profissionais para elaborar os projetos técnicos relativos à arquitetura, ao paisagismo, e à conservação e restauro, para posterior arrecadação de recursos, via leis de incentivo.

Como a área foi tombada pelo patrimônio histórico estadual em 1994, há uma série de critérios a serem respeitados para garantir a manutenção das características originais, o que encarece a obra. Estima-se que apenas a elaboração do projeto de restauração custe R$ 16 mil, valor que a Sociedade Israelita não tem.

– Existe aquele mito de que todo o judeu é abastado, endinheirado. Não é bem assim. A maioria são professores, profissionais liberais, pessoas que vivem de salário – comenta o presidente da Sociedade Israelita de Santa Maria, Sérgio Klinow Carvalho.

Compromisso – Por isso, a entidade está em busca de colaboradores que ajudem a bancar os custos dentro e fora da comunidade judaica.

– Estamos tentando preservar a história do povo judeu no Brasil e no Estado. E essa é uma parte da história não só de um povo, mas dos brasileiros – justifica Carvalho.

Desde o mês passado, a Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs) é parceira na empreitada, comprometendo-se a buscar patrocínio para os projetos junto à comunidade judaica gaúcha, formada por cerca de 18 mil pessoas.

– Normalmente, cemitérios são locais referenciais dos descendentes dos mortos que ali estão, mas quando se trata do primeiro cemitério judaico do Rio Grande do Sul, ele deixa de ser um monumento religioso para ser um monumento histórico– afirma o presidente da Firs, Jarbas Milititsky.

Interessados em colaborar com o projeto de restauração do Cemitério Israelita de Philippson podem entrar em contato pelo (55) 9107-3555.

tatiana.dutra@diariosm.com.br
TATIANA PY DUTRA